Rodrigo Abarca
Leitura: Juízes 2:6-11.
Esta
passagem é talvez uma das mais tristes da Bíblia. O Espírito Santo
deixou registradas estas palavras que refletem não só a tragédia do povo
de Israel, mas também a dor do coração de Deus. Voltando para trás,
encontramos o maravilhoso livro de Josué, onde vemos uma nação
vitoriosa, entrando na posse da terra prometida. Mas em seguida vem
uma mudança violenta, onde Israel se afunda, na forma progressiva, na
apostasia generalizada.
Os
juízes de Israel são a resposta de Deus à tremenda anormalidade
espiritual em que a nação se submergiu. Aquilo não era o propósito de
Deus; no entanto, ocorreu, e ficou registrado para o nosso próprio
proveito, porque há aqui lições fundamentais para a igreja do Senhor.
Note
como começa o relato: Josué tinha se despedido do povo, a terra havia
sido repartida e os filhos de Israel se foram cada um para a sua
herdade para possui-la. Versículo 7: «E o povo tinha servido a
Jehová todo o tempo de Josué, e todo o tempo dos anciãos que
sobreviveram a Josué, os quais tinham visto todas as grandes obras de
Jehová, que ele tinha feito por Israel».
Deus
estava no meio do seu povo, e lutava por Israel. Esta era a razão de
sua vitória. Desta forma que possuíram a terra. Mas em seguida, depois
da morte de Josué e de toda aquela geração, levantou-se «outra geração que não conhecia a Jehová, nem a obra que ele tinha feito por Israel». A consequência de tudo isto foi que depois «os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos de Jehová, e serviram aos baalins».
Assim
começa a história do livro de Juízes. Mas, por que Israel se afundou
na ruína que veio a seguir? Onde começou tudo? A resposta é, em uma
geração que não conhecia a Deus nem a obra que ele tinha feito. Por
essa razão veio toda a degradação moral e espiritual.
É
interessante observar que aquela degradação os entregou nas mãos dos
seus inimigos. A falta de conhecimento os levou a idolatria, mas a
idolatria produziu como efeito o seguinte: «E se acendeu contra
Israel o furor de Jehová, o qual os entregou nas mãos de roubadores que
os despojaram, e os vendeu na mão dos seus inimigos ao redor; e já não
puderam fazer frente aos seus inimigos» (Jz. 2:14).
A
história de Israel contém uma tipologia espiritual. Há verdades
espirituais contidas na história do Antigo Testamento que têm haver com
a nossa experiência de hoje. Vamos tratar de entender, então, o
significado espiritual desta passagem, para em seguida aplicá-lo a
nossa vida atual.
O Deus vivo
Vejamos 1ª Timóteo 3:15-16. «…para
que se eu tardar, saiba como deves te conduzir na casa de Deus, que é a
igreja do Deus vivente, coluna e baluarte da verdade». A frase «a igreja do Deus vivente» é uma expressão que aparece várias vezes, tanto no Antigo como no Novo Testamento.
Em
Hebreus capítulo três, por exemplo, faz-se alusão à história de
Israel e seu chamado para entrar na terra prometida. Diz-nos que,
antes de Josué introduzir o povo em Canaã, houve outra geração que
fracassou e morreu no deserto sem poder entrar. E aqui é usada outra vez
a expressão «o Deus vivente».
Observe como começou a ruína de Israel: «…levantou-se outra geração que não conhecia a Jehová»,
isto é, a geração posterior a Josué. A geração anterior, que não pôde
ingressar na terra, teve uma experiência similar. Hebreus 3:12 diz: «Olhem, irmãos, que não haja em nenhum de vós um coração mau de incredulidade para se apartarem do Deus vivo». Eles não só se apartaram de Deus, mas também «do Deus vivo».
«Não
endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação
no deserto, onde vossos pais me tentaram; provaram-me, e viram as
minhas obras por quarenta anos. Pelo qual me indignei contra essa
geração, e disse: Sempre andam vagando em seu coração, e não conheceram
os meus caminhos. Portanto, jurei na minha ira: Não entrarão no meu
repouso»
(Heb. 3:8:11). A geração que saiu do Egito não pôde entrar, e a
geração posterior perdeu os privilégios da terra; seguiu morando nela,
mas era como se não estivesse ali, pois foi derrotada por seus
inimigos. Deuteronômio 28:7, falando das bênçãos da terra prometida,
diz: «Jehová derrotará os teus inimigos que se levantarem contra
ti; por um caminho sairão contra ti, e por sete caminhos fugirão de
diante de ti». Esta era a promessa associada à terra prometida. Uma
terra que emanava leite e mel, pela qual eles não trabalharam, que foi
dada por graça e não por seus méritos. E nessa terra teriam com eles a
presença de Deus e seus inimigos não poderiam resisti-los.
No
que consistia a bênção da terra prometida? Por que ela era tão
gloriosa? Porque Deus estaria ali. A primeira geração não conseguiu
entrar, por causa da sua incredulidade. Qual era a raiz da sua
incredulidade? «…não conheceram os meus caminhos», quer dizer,
«não me conheceram». A incredulidade surge da falta de conhecimento de
Deus. Não há maior tragédia que não conhecer a Deus. Quando Israel foi
levado para a Babilônia, Deus disse: «O meu povo foi levado cativo, porque não teve conhecimento» (Is. 5:13). Não se refere ao conhecimento de matemática, a física ou da astronomia. Mas: «Assim
disse Jehová: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem em sua
valentia se glorie o valente, nem o rico se glorie em suas riquezas.
Mas o que se gloriar, gloriem-se nisto: em me entender e me conhecer» (Jer. 9:23-24). Eles não conheceram a Deus, e por isso se perderam.
O
conhecimento de Deus não é um entendimento doutrinário a respeito
dele. As doutrinas são importantes, mas conhecer a Deus não consiste
nisso. Pode-se conhecer toda a doutrina, todas as correntes de teologia
sistemática, e mesmo assim, não conhecer a Deus. O conhecimento de
Deus, do que fala a Bíblia, é o conhecimento do Deus vivo. Um
conhecimento nascido da fé e a experiência, que brota do caminhar com
Deus.
O exemplo de Abraão
O
livro de Josué diz que depois da morte dele se levantou outra geração
que não conhecia o Senhor. É porque não tinham noção alguma do Deus dos
seus pais? Provavelmente conheciam as doutrinas e tinham ensinos a
respeito de Deus, pois havia sacerdotes que ensinavam o povo. Mas o
problema jazia em um lugar mais profundo. A morte do conhecimento de
Deus sempre tem como ponto de partida a perda da palavra de Deus.
Quando termina o período dos juízes e começa a dos reis de Israel,
encontramos uma pequena frase que deve ser o ponto de inflexão de toda a
história. O tempo dos juízes termina de maneira trágica quando a arca é
capturada, e então Eli, o último juiz de Israel, morre por causa da
imensa comoção que lhe produz a sua perda. No entanto, nesse mesmo
tempo, um menino pequeno tinha crescido no tabernáculo junto a Eli:
Samuel. E, há uma frase ali que descreve todo o problema: «A palavra de Jehová escasseava naqueles dias; não havia visão com frequência»
(1 Sam. 3:1). E como escasseava a Palavra, quando Samuel ouviu a voz de
Deus, nem sequer pôde reconhecer que era Deus quem o chamava. Mas
depois que compreendeu, nos diz: «E Jehová se manifestou a Samuel em Siló pela palavra de Jehová» (1 Sam. 3:21). Este foi o ponto de inflexão, porque ali voltou a manifestar a palavra de Deus.
Agora,
a pergunta é: Eles não tinham a Torá, os livros de Moisés? Então, como
chegaram ao ponto em que ninguém conhecia o Senhor? Josué, Calebe e
toda a sua geração caminharam com Deus e viram as suas obras, porque
viveram na presença do Deus vivo. A única maneira de conhecer a Deus é
caminhando em comunhão e companheirismo com ele. E esta história, de
caminhar em comunhão com o Deus vivo, começa, segundo a Bíblia, com
Abraão.
Abraão,
«o pai de todos os crentes», habitava em Ur dos caldeus, uma cidade
governada pelo paganismo. Quando Deus o chamou, não havia conhecimento
de Deus na terra. Todos adoravam deuses falsos. No entanto, Abraão foi
chamado a viver em comunhão com o Deus vivo e verdadeiro.
Abraão foi chamado a caminhar com Deus. «Eu sou o Deus todo-poderoso; anda diante de mim, e sê perfeito» (Gên. 17:1). E isto começou quando, «O Deus da glória apareceu ao nosso pai Abraão»
(Atos. 7:2). Não foi uma simples aparição, mas a aparição do Deus da
glória. A visão da glória de Deus foi o que transformou a Abraão no pai
da fé.
Não heróis, mas crentes
Em
Hebreus capítulo 11 achamos uma lista de homens de fé que caminharam
com Deus: erroneamente chamados «heróis da fé». A palavra «herói» pode
nos induzir ao erro. Normalmente, eles são pessoas aguerridas e fortes.
Por isso, podemos crer que a fé é própria de certas pessoas que têm
algo naturalmente superior ao restante, por isso, logicamente, nós não
podemos ser como tais heróis, já que não possuímos essas qualidades em
nossa natureza.
Mas
estamos errados. Olhemos para Abraão. Ele era um herói espiritual que
encontrou a Deus depois de uma busca árdua e heroica? Não, mas era um
pagão, como qualquer outro de sua época. Não temos antecedentes de que
Abraão tenha procurado a Deus. Pelo contrário, foi Deus quem procurou a
Abraão primeiro. Foi a visão da glória de Deus que fez nascer a fé no
coração de Abraão. Pois, quem conhece a Deus aprende a crer e a confiar
nele.
Não
pensemos, portanto, em Abraão como um homem heroico. O que na verdade
ocorreu foi que ele viu a glória de Deus e essa visão fez nascer a sua
fé. Ao estudarmos a sua vida, vemos que ele não teve um caminho
ascendente todo o tempo. Teve desigualdades importantes, embora no
final terminasse em uma ascensão completa. Mas houve momentos em que
Abraão retrocedeu. Duas vezes desceu ao Egito, e uma vez, querendo
fazer as coisas a sua maneira, teve um filho que se tornou problemas
até o dia de hoje. Não, Abraão não foi um homem perfeito nem heroico.
Mas havia algo que caracterizava supremamente a Abraão: Conhecia a Deus e
confiava nele.
Você
se lembra com que apelido chamaram a Abraão quando chegou à terra
prometida? O hebreu. Literalmente, o hebreu significa «do outro lado do
rio», quer dizer, o estrangeiro. Abraão era um estrangeiro na terra,
um homem que estava neste mundo, mas não era deste mundo; que caminhava
em contato com o invisível, com o eterno, porque caminhava de mãos
dadas com Deus. Seu coração não estava colocado neste mundo; os seus
olhos estavam postos mais à frente. Ele via o Deus da glória, ao Deus
invisível e eterno, e por isso, através de Abraão, o reino dos céus
podia descer sobre a terra.
A
vontade do Deus eterno se revelou sobre a terra na vida do crente
Abraão. Quando outros o viam, contemplavam os efeitos de sua relação
com Deus, porque Abraão se tornou imensamente rico, não só em recursos
materiais, mas, sobretudo, espirituais. Mas isso foi só o efeito que
deixou a onda divina por trás golpear a praia desta terra. A explicação
mais profunda era em que Abraão conhecia a Deus, e caminhava em sua
presença.
Neste
sentido, a terra prometida expressa a vontade de Deus para o seu povo,
mas o seu significado é espiritual: Ela representa as riquezas
insondáveis do Senhor Jesus Cristo, das que nos fala Efésios 3:8. Toda a
história de Israel, desde que saiu do Egito até a sua entrada na terra
prometida, é figura de nossa própria experiência com Cristo. Da mesma
forma que eles, nós saímos do domínio do Egito, isto é, do domínio do
mundo, da morte e do pecado. Fomos tirados poderosamente através do mar
Vermelho, vale dizer da morte de Cristo, que se abriu diante de nós, e
assim passamos, através de sua morte, para a vida.
Mas
ali não terminava o propósito de Deus. Ele queria levar o seu povo a
uma terra que emanava leite e mel. Esta é a vida que Deus nos deu em
Cristo. Cristo é a terra de abundância. Tais são as riquezas
insondáveis ou inescrutáveis de Cristo representadas por Canaã; uma
terra de plenitude, uma figura material de algo muito maior. Porque o
insondável é algo que não tem fundo, que não se esgota nunca.
Colossenses diz do Senhor Jesus que, «nele habita corporalmente toda a plenitude da Deidade».
Não existe uma criatura que seja insondável. Toda criatura tem um
limite, um fundo. Há só um que não tem final, porque também não tem
princípio. Só um que é insondável: Deus. E por que, então, Cristo possui
riquezas insondáveis? Porque ele é Deus.
O Deus de glória
O
Deus de glória apareceu a Abraão. Na Escritura, não há uma definição
da palavra «glória». Fala-se do Deus da glória, mas nunca nos diz o que
exatamente é essa glória. De fato, se pudéssemos definir a glória,
também se poderia definir a Deus. Mas Deus não pode ser definido pela
linguagem humana, e tampouco a sua glória pode ser definida, porque ela
sempre será maior que as palavras com as que tentemos defini-la ou
expressá-la.
A
glória de Deus é a expressão do próprio Deus. Quem vê a sua glória, vê
a Deus. A glória que Abraão viu no princípio de sua jornada, é a mesma
glória do Senhor Jesus Cristo. Hebreus nos diz que ele é «….o resplendor da sua glória».
Jesus Cristo é o resplendor da glória de Deus. Uma melhor tradução do
grego seria «o brilho resplandecente de sua glória». De maneira que,
quando Abraão viu a glória de Deus, viu a glória de Cristo. O Deus da
glória lhe disse: «Sai da tua terra e da tua parentela, e vem para a terra que eu te mostrarei»
(Atos. 7:3). Abraão deixou a sua terra e saiu, embora não tenha
obedecido completamente, pois levou com ele a seu pai e a seu sobrinho
Ló. Mas há algo importante ali. Ele saiu, para ir atrás do Deus da
glória, e diz a Escritura que «saiu sem saber para onde ia»
(Heb. 11:8). Deus não lhe disse onde estava localizada a terra. Abraão
tinha que ir passo a passo atrás do Senhor. Saiu sem saber para onde
ia, mas mesmo assim, saiu. E finalmente Deus o introduziu na terra, e
Abraão ficou nela, embora nunca tenha se estabelecido por completo.
Este é um mistério na vida de Abraão, que representa a vida de fé.
«Pela fé habitou como estrangeiro na terra prometida… morando em tendas».
Ele já não estava na terra que Deus lhe havia prometido? Por que não
se estabeleceu ali? Porque, em seu caminhar com Deus, Abraão aprendeu a
olhar além do que se vê e do que se toca. Ele entendeu, finalmente,
que a terra não era um espaço físico ou material. A terra de verdade,
sua herança, era o próprio Deus. «Porque esperava a cidade que tem os fundamentos, cujo arquiteto e construtor é Deus».
Em Apocalipse vemos a cidade que tem a glória de Deus, porque o Deus
da glória habita nela. Abraão queria achar, finalmente, a terra do Deus
da glória. Este é o significado mais profundo da terra prometida. E,
onde encontramos ao Deus da glória em plenitude? Apenas em Jesus
Cristo. Porque ele é o resplendor da glória de Deus.
O
conhecimento de Deus é o conhecimento do Deus vivo, do Deus da glória.
E isto quer dizer que ele é mais que suficiente para suprir todas as
nossas necessidades. Quando Deus apareceu a Abraão, disse-lhe: «Eu sou o Deus todo-poderoso». Isto é, o Deus todo suficiente para as necessidades do seu povo. Literalmente, em hebraico (El-Shaddai)
quer dizer, o Deus que amamenta o seu povo. Não é maravilhoso? Isto
significa «o Deus da glória», um Deus tão amplo, tão cheio de riquezas e
recursos, que é mais que suficiente para suprir todas as nossas
necessidades.
Deus disse a Abraão: «Sai
da tua terra e da tua parentela… para a terra que te mostrarei. E
farei de ti uma grande nação, e te abençoarei, e engrandecerei o teu
nome». O que Deus queria dizer a Abraão com tudo isso? É obvio,
que estava falando do propósito eterno do seu coração, que é realizado
na edificação da igreja, que virá muito mais adiante na história.
Tudo começou em Abraão, mas termina naquela cidade eterna que é a
igreja, onde habita o Deus vivo. O sentido de tudo isto é que o Deus
infinitamente grande e cheio de recursos, quer que as suas riquezas se
tornem as nossas.
Mas
observem, esta não é uma riqueza material. Pode ser uma riqueza
material, se ele o quiser, mas não é nisso que Deus está pensando, e
Abraão entendeu muito bem. Ele não pensou que Deus queria criar um
império para ele aqui nesta terra. Por isso, «esperava a cidade que tem fundamentos».
Suas riquezas estão além deste mundo, mas tocam e alteram o curso
deste mundo. São as riquezas do reino de Deus e a vida celestial, em
resumo, as riquezas insondáveis de Cristo.
A perda da palavra viva de Deus
Voltando
para a história do livro de Juízes, e trazendo o seu significado para a
nossa experiência atual, podemos dizer que hoje em dia, a maior
tragédia da igreja está na falta de conhecimento de Deus. Isaías diz: «Jehová Deus nosso, outros senhores fora de ti se tem ensenhoreado de nós» (Is. 26:13). E em Juízes nos diz que «serviram aos baalins». Em hebreu, baal
significa senhor. Este era o nome que genericamente se dava aos deuses
falsos. Eles serviram a outros deuses, e não ao Deus vivo. Esse foi o
começo de sua decadência e derrota: «E se acendeu contra Israel o
furor de Jehová, o qual os entregou nas mãos de roubadores que os
despojaram, e os vendeu nas mãos dos seus inimigos ao seu redor; e já
não puderam fazer frente aos seus inimigos» (Jz. 2:14). Esta é,
também, a tragédia da igreja: Está servindo a outros senhores que não é
o Deus verdadeiro, porque se perdeu o conhecimento de Deus.
O
conhecimento de Deus começa a perder-se quando se perde a palavra de
Deus. Não a palavra de Deus no sentido de ensino, instrução ou
conhecimento da Bíblia, mas a palavra viva de Deus. Jeremias diz de
Israel: «Está próxima das suas bocas, mas longe dos seus corações»
(Jer. 12:2). O contexto é o reinado de Josias. Nunca houve um rei em
Israel que se convertesse tão profunda e definitivamente ao Senhor como
Josias, de todo o seu coração. A Escritura nos diz que, quando era
jovem, mandou reparar o templo, e ali foi achado o livro de Deus. Que
tragédia! A lei de Deus se extraviou naquele tempo. O rei começou a ler o
livro da lei e compreendeu a imensa tragédia do seu povo enquanto o
fazia. Então, Josias destruiu os lugares altos, queimou todos os ídolos
e celebrou a páscoa. Não obstante, o profeta declarou: «Está próximo das suas bocas, mas longe dos seus corações». Em seguida, Josias morreu, e a nação foi levada cativa.
«Meu povo foi levado cativo, porque não teve conhecimento». Eles tinham muitos profetas, que falavam supostamente da parte de Deus. No entanto, a palavra do Senhor veio a Jeremias: «Não
escuteis as palavras dos profetas que vos profetizam; eles alimentam
com vãs esperanças; falam da visão do seu próprio coração, não da boca
de Jehová. Dizem atrevidamente aos que me irritam: Jehová disse: Paz
tereis; e a qualquer que anda atrás da obstinação do seu coração,
dizem: Não virá mal sobre vós. Porque quem esteve no secreto de Jehová,
e viu, e ouviu a sua palavra? Quem esteve atento a sua palavra, e a
ouviu?» (Jer. 23:16-19). A palavra de Deus só pode ser obtida na
presença de Deus. Não é suficiente o ensino bíblico, se esta não brotar
do conhecimento íntimo de Deus. Em consequência, precisamos recuperar o
verdadeiro ministério da palavra de Deus.
Há
em Deus o desejo mais profundo de dar-se a conhecer. Ele quer caminhar
conosco. Por isso, Watchman Nee dizia: «Todo servo de Deus não só deve
ter conhecimento das doutrinas ou ensinos da Bíblia, mas uma história
de atos com Deus». No século XIX, na Inglaterra, George Müller, um
missionário alemão que se radicou lá, construiu um orfanato só com
orações e fé, e chegou a atender a mais de 5.000 meninos. Ele levava um
diário onde anotava todas as suas orações e as respostas que recebia.
Quando Müller morreu, tinha anotado mais de 90 mil orações e a mesma
quantidade de respostas. Essa é uma história de atos com Deus.
No meio de ti
Nosso
Deus é um Deus vivo. A igreja é a igreja do Deus vivente. Nosso Deus
não é simplesmente um ensino ou uma doutrina. Ele é um Deus vivo, e nós
existimos para mostrar ao mundo sua viva realidade. Que tragédia é que
se levante uma geração que não conheça a Deus, nem conheça tudo o que
ele fez por nós em Cristo Jesus. Uma geração que não conhece a obra de
Deus em Cristo é uma tragédia, que só traz ruína e derrota: «Jehová os vendeu nas mãos dos seus inimigos».
Então Satanás poderia afrontar à igreja porque não há conhecimento de
Deus. Nossa única possibilidade de vitória é que o Senhor esteja no
meio de nós.
Sofonias diz: «Jehová
está no meio de ti, poderoso, ele salvará; se deleitará sobre ti com
alegria, calar-se-á por seu amor, se regozijará sobre ti com cânticos»
(3:17). Este é nosso Deus. Que também se possa dizer de nós, Jehová o
Senhor está no meio de ti. O inimigo fugirá e não poderá resistir
diante de nós, porque conhecemos ao Deus vivo e sua obra, e caminhamos
diante dele.
Síntese de uma mensagem ministrada em Encruzilhada, Cuba, março de 2013.
Fonte:http://www.aguasvivas.ws/revista/71/07.htm